Quinta Nerd: E o RPG?

Depois de algum (muito) tempo desde a última vez que escrevi uma coluna ou um artigo aqui no blog, resolvi voltar a escrever. Os motivos serão ditos em outra edição da nova coluna do blog, a Quinta Nerd! Por que  Quinta Nerd? Basicamente, a quinta-feira é o dia que eu tenho um tempinho extra livre e não tem nenhuma postagem em especial. No passado tentei encaixar tirinhas nesse dia da semana, mas mesmo assim o tempo ficava escasso, mas elas voltarão em breve se tudo der certo.

Indo para o assunto do dia: qual de vocês não se lembra do seu primeiro RPG? (Se você falar da sua primeira sessão de reestruturação postural global, por favor, feche o blog e nunca mais volte. =D). Sinceramente, para mim é difícil lembrar quando foi minha primeira sessão de jogo, porque comecei muito cedo, quando nem sabia que estava jogando RPG. Mas ainda lembro muito bem qual era: Hero Quest. Eu não tinha nem dez anos na primeira vez que joguei essa obra prima dos jogos de tabuleiro. Entrar em um calabouço e sair enfrentando orcs, goblins, esqueletos, zumbis, warlocks, Guerreiros do Caos, etc., era algo tão fantástico que é até mesmo difícil descrever a sensação. Sair com um grupo formado por um bárbaro, um elfo, um anão e um mago para impedir que o impiedoso mago das trevas Zargon (o DM das partidas) destrua o mundo! Tudo bem, tudo bem! Em Hero Quest a interpretação dos personagens não era tão forte, mas foi graças a esse jogo que o RPG entrou em minha vida. Era com meu irmão Rafael, minha irmã Patrícia e meu primo Danilo que entrávamos nesse universo.

Mas porque decidi falar de RPG aqui hoje? Para explicar como ele funciona? Para criticar alguns jogos ou sistemas chatos? Para dizer que nerd fica comendo pipoca enquanto mata orc? Nada disso. Hoje quero falar do RPG na construção de uma pessoa, por mais que essa colocação pareça ser um tanto heroica para um simples jogo. Mas ué? Não é no RPG que entramos nos papéis de heróis que vão salvar o mundo (ou pelo menos a própria pele)? Não vou citar fontes de pesquisa nem comentários de pessoas famosas, portanto essa edição da coluna será quase totalmente pessoal.

Mas voltando à minha iniciação nesse mundo, fui apresentado ao RPG tradicional, que não tem a obrigação de utilizar tabuleiros ou coisa do tipo, apenas aos 12 anos, quando um amigo de escola me apresentou uma adaptação do desenho Medabots para RPG (eu era fascinado por aquele desenho, vocês não tem noção!). Mais uma vez todo esse universo paralelo das aventuras de RPG me encantou e eu dessa vez comecei a pesquisar e aprender mais sobre tudo isso. O primeiro sistema que possui livro oficial que joguei foi o 3D&T (aliás, quem estiver lendo e nunca jogou RPG, esse é o melhor para se começar). Comecei a jogar as adaptações existentes para esse sistema, e a que mais me marcou foi Megaman (deu para perceber que robôs era meu ponto fraco, né? XD). Após isso comecei a conhecer outro mais complexos, como o nacional Daemon e finalmente o consagrado D&D. Por ser de uma família praticamente toda cristã, eu detinha um certo preconceito para os jogos do Mundo das Trevas. E foi apenas aos 15 anos que eu perdi esse preconceito, com uma espetacular aventura de Hunter: The Reckoning, ligeiramente (plagiada pra caralho) baseada em Silent Hill, mestrada pelo meu amigo Gui Barros, o que me levou, em consequência, a conhecer melhor o universo de Vampiro: A Máscara, Lobisomem: O Apocalipse e Mago: A Ascensão e me apaixonar por seu enredo punk-gótico. A partir daí era de lei ter RPG em toda "semana do saco cheio" da escola, durante meu ensino médio inteiro. Depois que a escola terminou, a diversão mudou para passar noites de fim de semana acordado jogando aventuras pelas ruelas das cidades comandadas por vampiros, ou invadindo calabouços em busca de tesouros, etc...

Mas é aqui que você pergunta "ok, e o que tudo isso tem a ver com a construção de uma pessoa?". E eu lhe respondo: TUDO. É incrível como eu não consigo imaginar como seria minha vida atualmente se eu não tivesse jogado RPG. A verdade é que, por melhor em interpretação que você possa ser, você nunca será imparcial em uma partida de RPG, e por isso você acaba criando situações em que mostram você de verdade. Você descobre por qual amigo que está com apenas 1 PV você se sacrificaria se jogando na frente dele (isso nunca aconteceu em nenhum partida que participei...), descobre qual aquele amigo que você jogaria dentro de uma piscina vazia que você não faz ideia do que pode acontecer só para pegar uma chave que está no centro e, enquanto ele é atacado por um vampiro furioso, você fica atacando de longe (isso sim já aconteceu XD). Lembro inclusive de uma sessão de Hero Quest em que estávamos em uma das ultimas buscas do livro básico do jogo. Precisávamos recuperar um artefato das mãos do Warlock preferido de Zargon. Vou pular toda a aventura e ir para o desfecho, que é que interessa. Em um súbito golpe de sorte, conseguimos matar o Warlock e o Anão havia desarmados as armadilhas no baú onde estava o artefato. Depois disso, tudo que precisávamos fazer era voltar para a escadaria daquela masmorra e dar um fora dali. Bem, com todos fracos não foi bem isso que aconteceu. Cercaram a sala onde nos encontrávamos, e, quando tentamos sair por um lado que ainda tinha um corredor livre, descobrimos uma armadilha que impedia a passagem, e as ferramentas do Anão haviam quebrado. Com os monstros se aproximando, o Bárbaro se jogou na armadilha para que fosse ativada e, consequentemente, desarmada, para que os outros pudessem passar. O Bárbaro então ficou sozinho para enfrentar a horda que se aproximava, o Elfo bloqueou um dos acessos ao corredor e deixou o espaço livre para que o Mago e o Anão fossem embora. Aconteceu que, ao chegar na sala de fuga, o Mago, que estava quase morrendo, ficou para proteger o artefato, e o Anão voltou para ajudar os amigos que ficaram para trás. Bem, o Bárbaro quase morreu nessa busca, mas eu as ações involuntárias de todos os jogadores me fizeram aprender, ainda antes dos meus 10 anos, a força que o trabalho em equipe tem, quando as pessoas se entendem. Salvamos o mundo naquele dia.


A questão aqui é: o RPG influencia em como a pessoa interage com o mundo? A resposta, sempre lembrando que estou considerado minhas experiência pessoal, é SIM. As charadas dadas pelo mestre te ensinam a entender além das informações diretas que possui. O trabalho em equipe é fundamental para o sucesso e até mesmo aquele aliado que você considera mais fraco é de suma importância para a vitória. Ele te ensina a não ser arrogante pelas habilidades que tem, porque tudo pode ir por água abaixo em um dia ruim. Mesmo quando tudo está para dar errado, ainda há uma esperança de se conseguir sucesso. Desistir não condena apenas você, mas condena a todos.

Tudo bem, confesso que fui ligeiramente heroico na imagem que passei para vocês sobre RPG nesse último parágrafo. Mas a verdade é que muito do que sou e faço devo a esse jogo. Me aproximei de pessoas fantásticas através do jogo. Abri minha mente a um nível fantástico, onde aprendi a pesquisar sobre outras culturas ou crenças. Minha capacidade de desenvolver a minha própria opinião também se deve muito a ele e a forma com que ele me apresentou diversos pensamentos diferentes. Inclusive, meu maior projeto (que, mesmo estacionado, é muito importante para mim), Arnária, só existe graças ao RPG. Na verdade, Arnária nasceu em uma mesa de jogo, na primeira vez que mestrei D&D. É claro, hoje em dia é muito diferente do que era inicialmente, mas se eu não tivesse criado aquele continente (que inicialmente era chamado de Azgher, mas tive que mudar para não plagiar o deus do sol de Tormenta, de Marcelo Cassaro). Mais importante ainda, o conto de Eleodora é, na verdade, uma adaptação da melhor aventura que já mestrei (a história já está pronta gente, eu só tenho preguiça de escrever...). A habilidade de criar textos, tanto descritivos quanto argumentativos, foram extremamente aperfeiçoadas pela interpretação no RPG. Até mesmo coisas mais simples, como rir de si mesmo, foi ajudado pelos momentos em que se sai o número 1 naquele maldito dado. E, ao contrário do que diz a mídia, ele não nos induz a matar pessoas ou fazer rituais satânicos. Ele nos ensina a proteger os fracos, a ser uma pessoa que os interesses pessoais não devem ser mais importantes do que o interesse de todo um conjunto. 

Para concluir, só tenho o que agradecer a esse hobby fantástico. Muito diferente do que é difundido pela mídia, ele só fez bem a esse que vos fala. E sim, esse artigo contou mais sobre a minha história com o RPG do que a influência que ele pode ter tido em outras pessoas, mas tô nem aí, o blog é meu mesmo! =D

"Alguns dos momentos mais felizes da minha vida aconteciam quando eu rolava um 1"



Por favor gente, comentem, é importante para se saber a opinião de vocês!

Quinta Nerd: E o RPG? Quinta Nerd: E o RPG? Reviewed by Lorhien on quinta-feira, abril 26, 2012 Rating: 5

3 comentários:

  1. Legal cara, de inicio, achei que não ia dar conta de ler tudo (preguiça MATA). Mas foi uma leitura muito agradável, parabéns pelo artigo, e depois de ler tudo isso, me deu uma vontade de jogar...rs

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  2. Não tem o que comentar... simplesmente fantástico! E sim a aventura Hero Quest foi simplemente demais (mesmo com o mestre fudendo com o a gente a cada minuto!!! hahaha)!

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  3. vlw cara eu comecei a me interessar por esse estilo de rpg a pouco tempo mais agr estou gostando muito, e espero comprar um "kit" ou se possível eu mesmo fazer um (vai ser difícil mas posso tentar kk)

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